terça-feira, 15 de março de 2016
SONDA EXOMARS COM LANÇAMENTO PREVISTO PARA A PRÓXIMA SEMANA
Impressão de artista da separação do módulo de entrada, descida e aterragem da ExoMars 2016, com o nome Schiaparelli. Crédito: ESA/ATG medialab
Levou algum tempo, mas na próxima semana a Europa e a Rússia vão voltar a Marte. No dia 14 de março a ExoMars TGO (Trace Gas Orbiter) será lançada a partir do Cosmódromo de Baikonur, no Cazaquistão, a bordo de um foguetão Proton. A sua missão: compreender a atmosfera do planeta e procurar sinais de atividade biológica e geológica.
Assumindo que corre tudo como planeado, a nave alcançará o Planeta Vermelho no dia 19 de outubro. Transporta um pequeno "lander" chamado Schiaparelli que vai pousar na superfície, dando à ESA e à Roscosmos a muito necessária prática para o futuro rover ExoMars, com lançamento previsto para 2018.
Nenhuma das agências tem um grande historial quando se trata de Marte. A única missão da ESA, a Mars Express, entrou em órbita em 2003. Mas o Beagle 2, o veículo britânico que transportava, não conseguiu "telefonar" para casa, apesar de ter sido redescoberto recentemente à superfície. A Rússia tem-se saído ainda pior, perdendo a missão Fobos-Grunt em 2011 depois de um lançamento malsucedido. A União Soviética tentou mais de uma dúzia de missões a Marte, mas nenhuma foi um sucesso completo.
A NASA tem dominado a exploração marciana até agora. A sua sonda mais recente, a MAVEN, está atualmente a analisar a atmosfera superior do planeta, mas Håkan Svedhem, cientista do projeto ExoMars 2016, diz que a TGO dará uma nova perspetiva mais próximo da superfície. "Tem instrumentos que são muito, muito mais sensíveis do que no passado," afirma, que podem detetar moléculas a um nível de partes por milhar de milhão.
A ligação dos gases no ar com a sua origem à superfície é chave para descobrir se Marte é tão morto como parece, e a prioridade da TGO é o metano. Este gás quebra-se na luz solar após algumas centenas de anos, ou seja, este gás em Marte deve ter sido produzido recentemente, quer por vulcões ativos ou micróbios. "Se há metano, precisa de ser continuamente fornecido a partir de algum lugar," explica Svedhem.
As detecções anteriores de metano pelo rover Curiosity da NASA, juntamente com outras sondas e telescópios, revelaram-se confusas, pois o gás parece ser de mais curta duração do que o esperado. Para chegar ao fundo deste mistério, a TGO está equipada com dois conjuntos de espectrómetros desenhados para farejar os gases atmosféricos do planeta até pequenas quantidades, uma câmara para fotografar potenciais fontes no solo e um detetor de neutrões para mapear a água gelada até um metro abaixo da superfície.
Essas quantidades minúsculas - os gases residuais que dão à TGO o seu nome - vão desvendar os segredos do metano do planeta. Se o metano for acompanhado por um "aroma" a dióxido de enxofre, e atribuído a características geológicas à superfície, a causa mais provável será o vulcanismo ativo. O metano misturado com níveis mais elevados do isótopo carbono-12, que é o preferido pela vida na Terra, apontaria para uma origem biológica - embora ainda muito longe de confirmar a existência de vida em Marte.
"A detecção do metano, propriamente dito, não nos diz se é produzido biologicamente ou geologicamente - precisamos de olhar para a totalidade do comportamento atmosférico," afirma Bruce Jakosky da Universidade do Colorado, em Boulder, EUA, que lidera a missão da MAVEN. "A descoberta da fonte do metano é considerada pela equipa da TGO como o 'jackpot'."
Até o metano geológico poderá entusiasmar os astrobiólogos. "Pode sugerir que existem áreas de calor e troca química," afirma Nicholas Heavens da Universidade de Hampton, no estado americano da Virgínia. Ambos são ingredientes potenciais para a vida.
O que quer que a TGO descubra, não espere resultados imediatamente. Embora a sonda provavelmente capture algumas imagens e faça algumas medições para confirmar que tudo está a trabalhar devidamente após a sua missão interplanetária, a verdadeira fase científica da missão só terá início no final de 2017.
Isto porque a sonda chega a Marte com uma velocidade na ordem dos milhares de quilómetros por hora e tem que passar cerca de um ano a abrandar "raspando" suavemente a atmosfera, um processo chamado aerotravagem. A ESA praticou este método em 2014 com a sonda Venus Express, antes da missão chegar ao fim. "Adquirimos bastante experiência com a Venus Express," comenta Svedhem.
Este atraso significa que o rover Exomars de 2018, com aterragem prevista em 2019 numa região chamada Oxia Planum, não conseguirá seguir diretamente as descobertas da TGO. Tal como o Curiosity, este rover transporta muitos instrumentos, incluindo uma broca capaz de procurar sinais de vida até dois metros abaixo da superfície.
"A não ser que algo muito dramático aconteça, não esperamos que as descobertas da TGO afetem a decisão sobre o local de aterragem para a missão de 2018," afirma Svedhem. "Mas vão certamente ter impacto nas missões posteriores."
Em vez disso, o veículo de aterragem Schiaparelli acoplado à TGO vai agir como um ensaio. O "lander" é alimentado a baterias, por isso só deverá durar alguns dias à superfície, mas está equipado com sensores meteorológicos e uma câmara para obter imagens do ambiente marciano. A sua mais importante tarefa é testar o caminho acidentado até à superfície.
O Schiaparelli vai libertar-se da nave-mãe no dia 16 de outubro, poucos dias antes de alcançar Marte, e entrará pela atmosfera a 21.000 km/h. Em pouco menos de seis minutos, o escudo de calor, o para-quedas e os propulsores vão desacelerar o veículo até perto da velocidade de caminhada. A mesma tecnologia em larga escala deverá garantir uma aterragem segura para o futuro rover.
Isto não quer dizer que os dados da TGO não vão assistir o rover ExoMars quando este lá chegar, ou o sucessor robótico do rover Curiosity da NASA em 2020. "Se existirem fontes genuínas de gases interessantes, serão estes rovers que eventualmente esperamos que aí cheguem, ou que caracterizem ambientes potencialmente parecidos," afirma Heavens.
Se este grupo de exploradores descobrir sinais de atividade biológica, teremos algumas decisões importantes a fazer no que toca ao futuro da exploração de Marte. Parece provável a aterragem humana no Planeta Vermelho daqui a algumas décadas: a NASA tem alguns planos para colocar humanos em Marte na década de 2030, e outras agências e organizações privadas têm promessas vagas do mesmo objetivo. O potencial de contaminação da vida nativa poderá solicitar uma reconsideração, comenta Heavens. "Terá que haver um conjunto diferente de pensamentos sobre se deveríamos realmente enviar missões tripuladas a Marte."
Ou poderá conduzir-nos em frente. "Penso que se tornaria um forte motivador para trazer amostras de volta para a Terra ou enviar seres humanos," comenta Jakosky. "Nenhuma contaminação é total, estudamos microrganismos aqui na Terra mesmo sabendo que os já contaminados por pessoas."
Mas em primeiro lugar, a ExoMars terá que sair do solo. A missão tem uma janela de lançamento de 12 dias, caso o tempo ou outros problemas inviabilizem o lançamento da próxima segunda-feira, mas Svedhem tem pensamento positivo e diz que não será necessária. "Estamos confiantes de que tudo irá funcionar devidamente. Tudo parece em bom estado, tudo está pronto e acho que vamos mesmo lançar no dia 14."
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