Frequência de Superterras na zona de habitabilidade é de 41% (escala vai de 28 a 95%)
Definitivamente, não estamos sós. Se até agora não há evidências da existência de seres alienígenas, a Terra, porém, está acompanhada por muitos outros planetas parecidos com ela. Dezenas de bilhões, mais precisamente, e levando em consideração apenas a Via Láctea. Uma equipe de astrofísicos do Observatório Europeu do Sul (ESO) revelou que um dos mais eficientes caçadores de corpos celestes, o instrumento Harps, não apenas descobriu uma quantidade exorbitante de exoplanetas, aqueles que estão em outros sistemas solares, mas detectou que muitos se encontram em zonas habitáveis, que oferecem condições para o florescimento da vida.
Um grupo de astrônomos europeus descobriu um antigo sistema planetário que, aparentemente, é um sobrevivente de uma das mais antigas eras cósmicas , a 13 bilhões de anos. O sistema é formado pela estrela HIP11 e por dois planetas, que tem períodos orbitais de 290 e sete dias, respectivamente. Enquanto geralmente, planetas formam-se dentro de nuvens onde há elementos químicos pesados, a estrela mãe contem muito mais hidrôgenio e hélio que qualquer outro elemento. O sistema deverá ajudar a compreender melhor a formação planetária do universo primordial, quando as condições eram muito diferentes daquelas nas quais se contituiram planetas mais jovens, como a terra. Os pesquisadores, do instituto Max-Plank, acreditam que , originalmente, o Universo continha basicamente hidrogênio e hélio. Todos os elementos pesados foram produzidos ao longo do tempo dentro das estrelas, e depois escaparam para o espaço a medida que estrelas massivas encerravam suas vidas nas explosões gigantes de supernovas.
Durante seis anos, a equipe de cientistas analisou dados obtidos pelo Harps, incluindo os de 102 estrelas anãs vermelhas observáveis no Hemisfério Sul e, portanto, próximas ao nosso Sistema Solar. Esses objetos celestes, menores do que o Sol, mas muito mais longevos, respondem por 80% das estrelas da Via Láctea, e são cerca de 160 bilhões. Os astrofísicos constataram que 40% das anãs vermelhas são orbitadas por super-Terras, planetas rochosos muito semelhantes à Terra, com massa entre uma e 10 vezes a terrestre.
Os pesquisadores conseguiram estudar dois desses planetas, que se encontram no interior habitável das estrelas Gliese 581 e Gliese 667. Localizado a 20 anos-luz da Terra, na constelação de Libra, o Gliese 581b é um dos mais fortes candidatos a ser um “novo Planeta Azul”. “Se esse planeta tiver uma composição rochosa similar à da Terra, seu diâmetro seria 1,2 a 1,4 vez maior. A gravidade da superfície seria quase igual ou ligeiramente mais forte que a terrestre, possibilitando que se andasse em pé. O que faz com que seja habitável é o fato de estar localizado em uma zona que recebe calor suficiente para se manter aquecido, mas não é quente demais, possibilitando a vida”, explica Steven Vogt, professor de astronomia da Universidade da Califórnia em Santa Cruz.
O astrofísico, que não faz parte da equipe do ESO, é um dos estudiosos dos sistemas Gliese. Ele lembra, porém, que isso apenas significa que o ambiente não é hostil à vida. “Em nenhum momento afirmamos que há seres nesses locais”, insiste Vogt.
Já o Gliese 667 é um sistema de três estrelas a 23 anos-luz de distância, na constelação de Escorpião. De acordo com um estudo do Instituto de Astrofísica da Universidade de Göttingen, que usou dados do supertelescópio do ESO instalado no Chile, ele abriga pelo menos dois planetas na zona habitável. Um deles é o 667Cc. Quatro vezes mais pesado que a Terra, ele tem condições de abrigar água líquida na superfície.
Muito comum
Com os novos dados do Harps, sabe-se que existem muitos outros planetas semelhantes ao 581b e ao 667Cc, mais próximos do nosso Sistema Solar do que se pensava. “As nossas novas observações obtidas com o Harps indicam que quase metade das anãs vermelhas têm uma super-Terra que orbita na zona habitável, isso é, onde água líquida pode existir na superfície do planeta”, disse, em um comunicado, Xavier Bonfils, líder da equipe que anunciou as descobertas. “Como as anãs vermelhas são muito comuns, chegamos ao resultado surpreendente de que existem dezenas de bilhões desses planetas só na nossa galáxia.”
Stéphane Urdy, astrofísica suíça que faz parte da equipe que analisou os dados do Harps, destaca a importância do instrumento na busca de novos planetas. “As anãs vermelhas servem como uma referência para fazermos um ‘censo’ dos sistemas planetários; elas são, sem dúvida, o melhor alvo para buscarmos exoplanetas. Anteriormente, já se estimava, pela frequência dessas estrelas, que haveria muitos planetas em suas órbitas, mas perdemos muitos porque não tínhamos instrumentos com precisão suficiente. Com o Harps, isso mudou”, conta.
“Agora que sabemos que existem muitas super-Terras em órbita de anãs vermelhas próximas de nós, precisamos identificar mais delas utilizando tanto o Harps como futuros instrumentos”, afirmou Bonfils no comunicado. “Espera-se que alguns desses planetas passem em frente das suas estrelas hospedeiras à medida que as orbitam, o que nos dará uma excelente oportunidade de estudar sua atmosfera e procurar sinais de vida.”
Pesquisa divulgada ontem no encontro da Sociedade de Química dos Estados Unidos reforçou a ideia de que os cometas que bombardearam a Terra bilhões de anos atrás transportaram os principais ingredientes para a vida a surgir no planeta. Jennifer G. Blank, que liderou a equipe de cientistas, usou modelos computacionais para recriar a composição desses corpos celestes e estimar o que poderia ocorrer ao atingirem a atmosfera terrestre a cerca de 25 mil quilômetros por hora.
A vida em cometas
A pesquisa é parte de um esforço para entender como aminoácidos e outros ingredientes que formaram os primeiros seres vivos apareceram em um planeta que, há bilhões de anos, era árido. Os aminoácidos formam as proteínas, componentes primordiais de toda forma de vida, de micróbios a pessoas. “O estudo mostra que os tijolos que construíram a vida poderiam, de fato, ter permanecido intactos, apesar da onda de choque tremenda consequente do impacto de um cometa”, disse Blank. “Os cometas realmente teriam sido os pacotes ideais para a entrega de ingredientes que evoluíram quimicamente até culminar na vida. Acreditamos nisso porque, em seu interior, eles possuem todos os ingredientes necessários: aminoácidos, água e energia”, afirmou.
Os cometas são pedaços de gases congelados, compostos por água, gelo, poeira e rocha que os astrônomos chamam de “bolas de neve sujas”. Essas bolas, no entanto, podem ter 16km ou mais de diâmetro. Muitas delas orbitam o Sol em um cinturão situado além dos planetas mais distantes do Sistema Solar. Periodicamente, eles saem dessa barreira, tornando-se visíveis no céu.
Bilhões de anos atrás, no entanto, enxames de cometas e asteroides bombardeavam a Terra. Evidências sugerem que a vida na Terra começou no fim de um período chamado de “bombardeio pesado atrasado”, que envolveu cometas e asteroides. Antes disso, a Terra era muito quente para a sobrevivência de qualquer ser. Os primeiros fósseis conhecidos com evidência de vida datam de 3,5 bilhões de anos atrás.
Para saber se os ingredientes transportados por cometas conseguiriam permanecer na Terra apesar de tantos choques e colisões, a equipe de Blank usou um bombardeamento de gases que simularam as altas temperaturas que os aminoácidos teriam enfrentado quando cometas entraram na atmosfera da Terra. Os canhões de gases mostraram que, mesmo sob forte impacto, cápsulas cheias de aminoácidos e água conseguem resistir.