quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016
CIENTISTA REVELA EVIDÊNCIAS DE VIDA EM MARTE; MAS CAUSA POLÊMICA DENTRO DA NASA
Existem ou não evidências biológicas no Planeta Vermelho?
Os cientistas da equipe Curiosity colocaram em pauta um relatório recente sobre potenciais icnofósseis vistos em imagens feitas pela sonda Curiosity da NASA, nas rochas Gillespie, em Marte. A publicação desse assunto gerou muita controvérsia, e por isso, a revista Astrobiology estendeu a mão para a equipe e para o autor do estudo, pedindo que eles comentassem sobre o assunto, e quem sabe, trouxessem informações adicionais.
Em um artigo publicado no mês passado na revista Astrobiology, a geobióloga Nora Noffke chamou a atenção para os indícios que podem ser observados em rochas marcianas, que sugerem uma impressionante semelhança com traços de fósseis de tapetes microbianos da Terra.
Mas nem todos concordaram com a sua interpretação, como por exemplo o cientista projetistas da sonda Curiosity, Ashwin Vasavada. Ele explicou a outros meios de comunicação que a equipe avaliou as características e, segundo eles, seriam traços não-biológicos, que foram provavelmente moldados pela erosão ou pela passagem de areia e água. Ashwin também indagou a decisão de se levantar um relatório sobre tal questão.
A revista Astrobiology pediu ajuda para outros integrantes da missão Curiosity, e para alguns profissionais da área, permitindo que todos dessem suas opiniões a cerca desse assunto tão polêmico.
Região de Yellowknife Bay, em Marte
Mosaico de imagens feitas pela sonda Curiosity mostra a região de Yellowknife Bay, incluindo o Lago Gillespie. Créditos: NASA / JPL-Caltech / MSSS
"Estou intrigado com o tema, porém cético quanto a interpretação", disse Jack Farmer, um geobiólogo da Universidade do Arizona e membro da equipe Curiosity. "Queremos que a ciência seja orientada por hipóteses, mas devemos sempre nos esforçar para refutar nossas próprias hipóteses", acrescentou. "Precisamos de muitas evidências para dizer que os recursos tenham origem biológica"
Linda Kah, uma geobióloga da Universidade do Tennessee e co-investigadora da equipa Curiosity, disse que a equipe investiga cuidadosamente todos os detalhes, e que as rochas de Gillespie não têm nada que não possa ser explicado através de processos não biológicos.
No entanto, Nora Noffke argumenta que seu relatório mostra as explicações não-biológicas para essas estruturas, mas também explica por que as evidências apontam para uma possível origem biológica.
Ela também observa que os padrões de distribuição de estruturas microbianas na Terra variam dependendo de onde eles são encontrados, e também mudam ao longo do tempo. Ela argumentou que os padrões de distribuição das estruturas marcianas são consistentes com os padrões de estruturas microbianas na Terra.
"Mais uma vez, eu não tenho a pretensão de ter encontrado vida fóssil em Marte", disse ela. "Meu papel é enquadrar e estudar essa hipótese, e só ir tão longe quanto os dados me permitem".
rochas Gillespie em Marte
Rochas do Lago Gillespie, na formação de Yellowknife Bay, em Marte.
Créditos: NASA
A decisão de publicar o artigo e de mencionar "hipótese de vida microbiana em Marte" causou um certo desconforto entre os integrantes da equipe da missão Curiosity. "Ficamos surpresos que uma publicação tão ousada foi parar na literatura científica", disse Ashwin. "Ela é interessante, mas não a ponto de ser descrita num documento que tem tanto alcance".
Afinal, a publicação tem ou não evidências concretas? Qual a conclusão final?
A revista Astrobiology pediu ajuda do Journal Astrobiology (que não tem ligação com ela), para que eles fornecessem uma visão mais profunda sobre o assunto.
Sua editora editora-chefe, Sherry Cady, é uma biogeoquímica e especialista em interação de micróbios em sedimentos. Ela também serve como cientista-chefe do Laboratório National Pacific Northwest e de um centro de pesquisas em Richland, em Washington.
selfie da sonda Curiosity em Marte
Auto-retrato da sonda robótica Curiosity inclui uma vista panorâmica de
Yellowknife Bay, na região do Planeta Vermelho conhecida Cratera Gale.
Créditos: NASA / Curiosity
Ela comentou: "O processo de revisão dessa polêmica publicação foi profundo, com os mais altos padrões de qualidade e veracidade. O manuscrito original foi enviado para cinco juízes experientes e especialistas na área. O papel passou por quatro revisões finais, até que tudo fosse verificado. O documento foi então editado e revisado novamente por mim e pelo editor sênior, Norm Sleep".
"O trabalho de Nora Noffke propõe uma hipótese testável, com base em três linhas de evidência, com imagens que mostram suas particularidades", acrescentou Sherry. "Especialistas na área que desejam esclarecer questões do conteúdo científico de trabalhos publicados na Astrobiology, estão livres para apresentarem suas observações para publicação na revista".
"Desta forma, os cientistas da missão, assim como peritos de todo mundo, podem juntar esforços para contribuir com a ciência de maneira significativa", completou Sherry.
Ao que parece, esse assunto não terá uma conclusão aceita por todos, pelo menos não tão logo.Mas tudo bem, afinal, é assim que a ciência é feita.
Fonte: Space / Astrobiology Magazine / Journal of Astrobiology
Imagens: NASA / JPL-Caltech / MSSS / Curiosity
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