Um foco de luz localizado entre as constelações de Lyra and Cygnus tem intrigado os cientistas por parecer uma estrela, mas comportar-se de modo muito diferente desses corpos celestes.
Essa "anomalia" do espaço foi flagrada pela sonda Kepler, da Nasa (agência espacial americana), e identificada por um programa de ciência cidadã que ajuda a filtrar as informações enviadas pelo telescópio.
Os pesquisadores perceberam que a estrela encontrada, chamada KIC 8462852, tem o estranho hábito de diminuir a intensidade do seu brilho em intervalos irregulares.
Para se ter uma ideia de o quanto essa característica é única, entre as outras cerca de 150 mil estrelas avistadas pelo telescópio, esta é a única que se comporta dessa maneira.
Em geral, quando há uma redução temporal da luminosidade produzida, é porque um planeta está passando diante de sua estrela - no que seria uma volta da sua órbita.
Essa característica seria a comprovação de que existiria um planeta ali. A frequência dessas quedas na intensidade do brilho da estrela – que são regulares – corresponderia à duração de sua órbita.
Mas, no caso específico dessa estrela, os intervalos observados foram completamente irregulares, tanto em termos de frequência quanto de intensidade.
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Copyright British Broadcasting Corporation 2015 Cientistas descartaram a possibilidade de ser um planetta
Assimetria
Diante de tais características, os cientistas acabaram descartando a possibilidade de a anomalia representar a presença de um novo planeta.
Além disso, a hipótese foi ignorada também porque a intensidade da queda de luz é muito grande: mesmo que fosse um planeta do tamanho de Júpiter (o maior do nosso Sistema Solar), a luz da KIC 8462852 poderia ser reduzida somente em 1%.
Então, como se explica esse fenômeno
EspeculaçõesTabetha Boyajian, astrônoma da Universidade de Yale, nos Estados Unidos - instituição que lançou o programa de ciência cidadã Planet Hunters em 2010 -, publicou um estudo recentemente sobre as possíveis causas.
Mas cada uma delas, segundo a cientista, têm um ponto frágil.
"Nós estamos quebrando a cabeça: para cada ideia que surgia sempre havia algum argumento contrário", explicou Boyajian.
A princípio, ela e sua equipe descartaram a possibilidade de a "estrela bizarra" representar uma falha de processamento de dados no telescópio.
Eles também eliminaram a hipótese de ser uma estrela jovem, que está em processo de acumular massa e, por isso, estaria rodeada por uma nuvem de poeira, o que poderia explicar a irregularidade de seu brilho.
O estudo conclui que a explicação mais factível pode estar em um grupo de "exocometas" que se aproximaram da estrela e se romperam por causa da gravidade, deixando enormes quantidades de poeira e gás no processo.
Se os cometas se movimentam em uma órbita que os faz passar na frente do planeta a cada 700 dias aproximadamente, seus fragmentos, que ainda estão se desprendendo no espaço, poderiam explicar a diminuição irregular do brilho percebida pela sonda Kepler.
A única maneira de checar essa teoria seria conseguindo mais informações, mas desde que o telescópio parou de funcionar corretamente, em 2013, ficou mais difícil obter dado
Extraterrestres?A hipótese mais surpreendente levantada pelos cientistas é de a "anomalia" encontrada no espaço representar um sina de vida extraterrestre inteligente.
Intrigada com a questão, Boyajian compartilhou os resultados do seu estudo com Jason Wright, cientista da Universidade Penn State e membro de uma organização que investiga exoplanetas e mundos habitáveis.
A opinião dele abre portas a possibilidades mais ousadas.
Segundo Wright, se nenhuma das razões acima mencionadas é convincente, por que não pensar que o fenômeno poderia ser causado por uma série de megaestruturas equipadas com painéis solares - e que teriam sido construídas por extraterrestres?
"Quando (Boyajian) me mostrou as informações, eu fiquei fascinado, porque parecia algo bizarro", disse ao site . "Alienígenas sempre devem ser a última hipótese a se considerar, mas isso parecia ser algo que uma civilização de extraterrestres poderia construir".
Os cientistas que acreditam na existência de vida inteligente - ou ao menos na possibilidade disso - fora do nosso planeta sustentam que uma civilização alienígena avançada se caracterizaria muito provavelmente por sua capacidade de obter energia de seu sol, e não da exploração de outros recursos do seu próprio planeta.
Boyajian e Wright, porém, advertem que essa hipótese ainda é muito remota e deve ser analisada com cautela - ainda que seja válida e digna de investigação. E para isso, vão apresentar uma proposta para colocar um telescópio na estrela e analisá-la de maneira minuciosa.
Se tudo der certo, as primeiras análises deverão ser feitas em janeiro.
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