Batizadas de "feijões verdes", novas galáxias são raríssimas e apresentam brilho e coloração incomuns.
A luz da galáxia "feijão verde" J2240 levou cerca de 3,7 bilhões de anos para chegar até nós (CFHT/ESO/M. Schirmer)
O astrônomo alemão Mischa Schirmer descobriu um novo tipo de galáxia, apelidada de “feijão verde” por ter um incomum brilho esverdeado. Trata-se de um objeto raríssimo, só existindo, em média, um em cada cubo de 1,3 bilhão de anos-luz de lado. Para se ter uma ideia do que isso significa, numa área deste tamanho costumam ser encontradas de 10 milhões a 100 milhões de galáxias. A descoberta foi divulgada em um artigo publicado nesta quarta-feira no periódico científico The Astrophysical Journal.
Com o auxílio do telescópio Canadá-França-Havaí, Schirmer estava à procura de aglomerados de galáxias em áreas extremamente distantes quando notou algo bastante peculiar: um objeto parecido com uma galáxia, mas de brilho e coloração incomuns. Após observações com o Very Large Telescope (VLT) do ESO, localizado no Chile, o astrônomo alemão confirmou que o ponto esverdeado, batizado de J2240, era na verdade uma nova classe de galáxia. A luz proveniente da J2240 demorou incríveis 3,7 bilhões de anos-luz para chegar até a Terra.
Reunindo dados sobre o novo objeto, Schirmer garimpou quase um bilhão de galáxias já conhecidas em busca de propriedades semelhantes. Ele encontrou outras 16 galáxias com as mesmas características, que em seguida foram confirmadas como autênticas "feijões verdes". As regiões distantes em uma galáxia normalmente "não são nem muito grandes nem muito brilhantes, e por isso só conseguem ser observadas em galáxias próximas", diz Schirmer. "No entanto, nessas galáxias recentemente descobertas ("feijões verdes"), as regiões são tão grandes e brilhantes que podem ser observadas com detalhes, apesar das enormes distâncias envolvidas."
A grande maioria das galáxias de grande massa, como a Via Láctea, tem um buraco negro em seu centro, cuja atividade faz com que gases próximos brilhem. As recém-descobertas “feijão verdes”, por outro lado, apresentam um forte brilho que engloba quase toda a galáxia, e não apenas seu centro. Tal fenômeno seria compatível com a existência de um buraco negro em intenso funcionamento, que teria força suficiente para iluminar a galáxia completamente – no entanto, os buracos negros avistados nessas galáxias estavam pouco ativos. Se os buracos negros estavam 'quietos', como eles fazem uma galáxia inteira brilhar?
Ecos do passado – De acordo com Mischa Schirmer, nas galáxias “feijão verde” o brilho é resultado da ionização do oxigênio, formando uma espécie de marca que teria ficado impressa mesmo após a gradual perda de força do buraco negro. O brilho esverdeado nessas porções longínquas, dessa forma, seria um eco do passado, um resquício do período em que o buraco negro estava trabalhando a todo vapor. "Sabemos muito pouco sobre como os buracos negros se acalmam e diminuem a sua atividade. Não sabemos quanto tempo dura nem porque isso acontece", afirma Schirmer, em entrevista ao site de VEJA.
Como o brilho "impresso" nas galáxias "feijão verde" varia de acordo com a proximidade com o centro (e consequentemente com o buraco negro), o astrônomo alemão percebeu que poderia estudar as etapas da aquietação de um buraco negro em vários intervalos, separados por poucas dezenas de milhares de anos. "Podemos tentar entender como os buracos negros em plena atividade, que eram muito comuns há 10 bilhões de anos no Universo, de certa forma desligam", resume Schirmer. Assim sendo, futuras observações permitirão analisar uma importante fase transitória na vida de uma galáxia.
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