segunda-feira, 17 de junho de 2013

A VIZINHANÇA DA TERRA NA VIA LÁCTEA MERECE MAIS RESPEITO


A vizinhança do nosso Sistema Solar na Via Láctea está maior. Nós vivemos entre dois grandes braços espirais da nossa Galáxia, numa estrutura chamada Braço Local. 

Na imagem antiga (cima), o Braço Local é uma zona pequena da Via Láctea. Na nova imagem o Braço Local é provavelmente um grande ramo do Braço de Perseu. Créditos: Robert Hurt, IPAC; Bill Saxton, NRAO/AUI/NSF
Novas pesquisas usando a visão rádio ultra-nítida do VLBA (Very Long Baseline Array) indicam que o Braço Local (também chamado Braço de Orion), que se pensava ser uma zona pequena, é na realidade mais parecida com os grandes braços adjacentes, e é provavelmente um ramo importante de um deles. 

"As nossas evidências sugerem que o Braço Local devia aparecer como uma característica proeminente da Via Láctea," afirma Alberto Sanna, do Instituto Max-Planck para Radioastronomia. Sanna e colegas apresentaram os seus achados numa reunião da Sociedade Astronômica Americana em Indianapolis, Indiana, EUA. 

A determinação da estrutura da nossa própria Galáxia há muito que é um problema para os astrônomos porque estamos dentro dela. A fim de mapear a Via Láctea, os cientistas necessitam de medir com precisão as distâncias até objetos dentro da Galáxia. No entanto, a medição das distâncias cósmicas é também uma tarefa difícil, o que leva a grandes incertezas. O resultado é que, enquanto os astrônomos concordam que a nossa Via Láctea tem uma estrutura espiral, não conseguem encontrar um consenso sobre o seu número de braços e as suas posições específicas. 

Para ajudar a resolver este problema, os cientistas voltaram-se para o VLBA e para a sua capacidade de fazer as medições mais precisas, à disposição dos astrônomos, de posições no céu. O VLBA permitiu com que os astrônomos usassem uma técnica que produz medições precisas de distâncias, de forma inequívoca e através de trigonometria simples. 

Ao observar objetos quando a Terra está em lados opostos da sua órbita em torno do Sol, os astrônomos podem medir a sutil mudança na posição aparente do objeto no céu, em relação ao fundo de objetos mais distantes. Este efeito tem o nome de paralaxe, e pode ser demonstrado colocando um dedo perto do nariz e fechando alternadamente cada olho. A capacidade do VLBA para medir com precisão as muito pequenas mudanças na posição aparente permite aos cientistas usar este método trigonométrico para determinar diretamente distâncias muito mais longínquas da Terra do que era antes possível. 

Os astrônomos usaram este método para medir as distâncias de regiões formação estelar na Via Láctea onde as moléculas de água e metanol impulsionam as ondas de rádio, da mesma forma que um laser estimula ondas de luz. Estes objetos, chamados masers, são como faróis para os radiotelescópios. As observações do VLBA, realizadas entre 2008 e 2012, produziram medições precisas da distância de masers e também permitiram aos cientistas acompanhar o seu movimento pelo espaço. 

Um resultado surpreendente foi uma atualização do estado do Braço de Orion no qual o nosso Sistema Solar reside. Nós estamos entre dois grandes braços espirais da Galáxia, o Braço de Sagitário e o Braço de Perseu. O Braço de Sagitário está mais perto do Centro Galático e o Braço de Perseu está mais para fora na Galáxia. Pensava-se que o Braço de Orion era apenas uma estrutura menor entre os dois braços maiores. Os detalhes desta descoberta foram publicados na revista Astrophysical Journal por Xu Ye e seus colaboradores. 

"Com base nas distâncias e nos movimentos medidos, o nosso Braço Local não é uma área de pequena importância. É uma grande estrutura, talvez um ramo do Braço de Perseu, ou possivelmente um segmento independente de um braço," afirma Sanna. 

Os cientistas também apresentaram novos detalhes sobre a distribuição da formação estelar no Braço de Perseu e no Braço mais exterior e distante, que engloba uma deformação na nossa Galáxia. 

As novas observações fazem parte de um projeto em andamento com a sigla BeSSeL (Bar and Spiral Structure Legacy), um grande esforço para mapear a Via Láctea usando o VLBA. A sigla honra Friedrich Wilhem Bessel, o astrônomo alemão que fez a primeira medição precisa da paralaxe estelar em 1838. 

O VLBA, inaugurado em 1993, usa dez antenas parabólicas com 25 metros de diâmetro distribuídas desde o Hawaii até às Caraíbas. Todas as dez antenas trabalham como um único telescópio com o maior poder de resolução disponível na astronomia. Esta capacidade única produziu contribuições marcantes em vários campos científicos, desde placas tectônicas na Terra, pesquisa climatérica, passando por navegação de naves espaciais até cosmologia. 

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