segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

A ASTRONOMIA PRÉ-HISTÓRICA



Desde tempos imemoriais o homem sempre olhou para o céu. Espírito da Lua dos Inuit. 
O rebordo em torno da máscara representa o ar, os aros representam os níveis do cosmos e as penas representam as estrelas. Nesta cultura Árctica a Lua fornece a maior parte da luz durante os meses de inverno pelo que ocupa um lugar proeminente na sua cultura.
Logo após a formação das primeiras sociedades, à noite em torno das fogueiras que serviam de protecção às sociedades primitivas, os primeiros seres humanos terão visto os pontos luminosos que existem no céu e ter-se-ão questionado sobre a origem e significado dos mesmos. Ao longo de séculos, essas pequenas velas cósmicas inspiraram poetas e visionários, que nelas viam o sonho e o almejado atingir de um estado de graça divino.
A história da Astronomia está por isso intimamente ligada à história do próprio Homo Sapiens, enquanto espécie capaz de estruturar sociedades e de construir conhecimento a partir da transmissão de informação de geração para geração.
Muito antes da invenção da escrita, já o céu se constituía como um importante recurso cultural entre as sociedades primitivas por todo o Mundo. Os comerciantes marítimos navegavam pelas estrelas, as comunidades agrícolas usavam-nas para saber quando deviam semear as suas culturas, sistemas ideológicos associavam determinados objectos celestes a eventos cíclicos que associavam quer a entidades terrenas como divinas e começaram a existir algumas técnicas preditivas de determinados eventos, como por exemplo, os eclipses.
Existem alguns exemplos em que é clara a integração dos objectos celestes em culturas pré-históricas. Por exemplo, foram encontradas máscaras em que é clara a integração de elementos celestes nas mesmas; esse tipo de motivos continua patente em muitas tribos primitivas actuais.


Figura 2 - Sir Norman Lockyer.

Terão as culturas pré-históricas europeias tido uma cultura quasi-científica de observações precisas, que levassem mesmo à previsão de certos eventos? Ao longo da Europa existem restos megalíticos, construídos nos terceiro e segundo milénios antes de Cristo, que contêm alinhamentos que foram elaborados por razões astronómicas.
Sir Norman Lockyer (Figura 2), um astrónomo inglês do século XX, afirmou a este respeito:
Pela minha parte, considero que é agora completamente inequívoco, que os nossos antigos monumentos foram construídos para marcar os locais de nascente e poente de certos corpos celestes.
O tipo de alinhamentos referidos por Lockyer encontra-se patente em diversos monumentos megalíticos, dos quais o mais proeminente é Stonehenge (Figura 3).
O alinhamento de Stonehenge ao meio-dia do solstício é talvez a maior manifestação da Astronomia dos nossos antepassados. Não é provável, apesar da precisão que se verifica com certas efemérides astronómicas, que Stonehenge tenha funcionado como observatório astronómico, no sentido actual do termo, sendo mais provável que tenha sido um local de culto para rituais pagãos ligados a essas mesmas efemérides. O eixo do alinhamento de Stonehenge encontra-se na direcção do nascer-do-sol no soltício de Inverno, e em direcção ao pôr-do-sol no solstício de Verão.
Elementos megalíticos deste tipo são comuns na Grã-Bretanha, encontrando-se os círculos exteriores constituídos por 27 ou 28 pedras, que representam a duração do ciclo lunar. A Figura 4 representa uma reconstituição de Stonhenge, considerado como círculo de pedras estruturado de forma padrão.

Figura 3 - Stonehenge. 

  Figura 4 - Reconstituição do que terá sido o aspecto de Stonehenge no segundo milénio antes de Cristo.
Em Portugal, existe um monumento megalítico deste tipo, próximo de Évora: o Cromeleque dos Almendres (coordenadas geográficas: 38° 33.45291'N 08° 03.67664'W)

Figura 5 - Cromeleque de Almendres.

O Cromeleque dos Almendres constitui a maior planta neolítica da Peninsula Ibérica, com 92 menires parcialmente trabalhados formando círculos e alinhamentos relacionados com efemérides astronómicas.

CONSTELAÇÕES
O olhar para o céu desde cedo levantou a questão da sua organização. De facto, a necessidade do Homem organizar e catalogar a informação está patente no nosso quotidiano em quase todas as áreas de actividade. Quando entramos num supermercado, por exemplo, sabemos que se num expositor se encontram massas, provavelmente nesse expositor não haverá leite. Tal como se criou os mapas para nos orientarmos ao nível do solo, o Homem criou cartas celestes para se orientar através dos céus. Nas cartas celestes, as constelações são o equivalente aos países dos mapas e as estrelas o equivalente às povoações.

Figura 6 - Constelações do Hemisfério Norte

. A - Os traços de união que permitem construír figuras imaginárias; B - Na Antiguidade chegavam mesmo a atribuir formas tridimensionais em torno dos traços da união.

As constelações são padrões que os seres humanos percepcionaram a partir da distribuição aleatória das estrelas visíveis no céu à vista desarmada. Representam a projecção de figuras ou imagens com relevância social, tecnológica ou mitológica para aqueles que as inventaram na época em que viviam. Originalmente reflectiam uma crença supersticiosa que os céus continham entidades ou divindades que no passado, presente ou futuro, poderiam afectar o destino humano. Esta crença ainda hoje se mantém com uma estranha adesão popular à astrologia. As estrelas de uma dada constelação não têm normalmente qualquer relação física entre elas e podem encontrar-se a distâncias completamente diferentes da Terra. Para os astrónomos actuais as constelações são auxiliares de memória que permitem saber melhor as coordenadas numéricas e ter uma ideia aproximada de qual é a área do céu que está a ser referida numa conversa.
A nossa abordagem vai considerar sobretudo as constelações ocidentais; no entanto, não deve ser esquecido que existem diversas formas tradicionais de definir as constelações para além destas. Por exemplo, as cartas celestes chinesas tinham 28 casas lunares e 122 agrupamentos de constelações. Os índios dos Andes possuíam uma série de nomes de constelações, tal como os navegadores da Polinésia.
Houveram tentativas audaciosas de redesenhar todo o céu: por exemplo, Julius Schiller no seu Coelum Stellatum Christianum..., publicado em Augsburgo em 1627, tentou substituir os símbolos pagãos por santos cristãos, baseado nos mesmos agrupamentos de estrelas.
A versão actual das constelações começou a ser traçada por Ptolomeu, que compilou as crenças anteriores à sua existência no primeiro catálogo real de estrelas, o Almagest. Diz-se frequentemente que todos os nomes tradicionais de estrelas como "Aldebaran" ou "Betelgeuse" são de origem árabe, mas isto é simplificar demasiadamente a questão, pois os nomes das estrelas têm inúmeras origens linguísticas, tendo os nomes das estrelas do Hemisfério Sul, como por exemplo "Acrux", sido atribuídos na Idade Moderna. O catálogo de Ptolomeu continha 48 constelações incluindo já as mais famosas e espectaculares como Orionte, o Touro, Pégaso, entre outras.
Com o passar do tempo, as constelações foram ilustradas em vários manuscritos, especialmente nos manuscritos árabes. Em 1482 surgiu a primeira edição de Poeticon Astronomicon de Caius Julius Hyginus, o primeiro livro a conter representações impressas das constelações mais proeminentes.
Desde então têm sido escritos imensos livros dedicados à descrição e representação das constelações.
Para um astrofísico, a constelação é uma região contida dentro de limites definidos em função da ascensão recta e da declinação que se encontram na área onde os antigos imaginavam as figuras que deram o nome à constelação.
Figura 7 - Concepção das Constelações. 
Na Antiguidade atribuíram nomes do seu quotidiano ou do seu imaginário às constelações. Hoje seria possível imaginar objectos. A - Centauro; B - Sagitário.

Imagem do céu visto por antigos  da Constelação Centaurus ou Sagitário





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