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domingo, 2 de julho de 2017

NUVEM CAOTICAMENTE MAGNETIZADA NÃO É LUGAR PARA CONSTRUIR UMA ESTRELA. OU É?


Impressão de artista das linhas do campo magnético muito perto de uma jovem protoestrela emergente.
Crédito: NRAO/AUI/NSF; D. Berry
Durante décadas, os cientistas pensavam que as linhas do campo magnético em torno de uma estrela em formação eram extremamente poderosas e ordenadas, deformando-se somente sob extrema força e a uma grande distância da estrela nascente.
Agora, uma equipa de astrónomos usando o ALMA (Atacama Large Millimeter/submillimeter Array) descobriu um campo magnético fraco e descontroladamente desorganizado surpreendentemente perto de uma protoestrela emergente. Estas observações sugerem que o impacto dos campos magnéticos na formação de estrelas é mais complexo do que se pensava.
Os investigadores usaram o ALMA para mapear o campo magnético surpreendentemente desorganizado ao redor de uma jovem protoestrela chamada Ser-emb 8, localizada a cerca de 1400 anos-luz de distância na região de formação estelar de Serpente. Estas novas observações são as mais sensíveis já feitas do campo magnético em pequena escala que inunda a região em redor de uma jovem estrela em formação. Também fornecem importantes informações sobre a formação de estrelas de baixa massa como o nosso próprio Sol.
As observações anteriores, com outros telescópios, já haviam confirmado que os campos magnéticos em redor de algumas protoestrelas jovens têm uma forma de "ampulheta" clássica - a marca de um forte campo magnético - que começa perto da protoestrela e se estende muitos anos-luz para a nuvem molecular circundante.

A textura representa a orientação do campo magnético na região em redor da protoestrela Ser-emb 8, medido pelo ALMA. A região cinzenta é a emissão milimétrica da poeira.
Crédito: ALMA (ESO/NAOJ/NRAO); P. Mocz, C. Hull, CfA
"Até agora, não sabíamos se todas as estrelas eram formadas em regiões controladas por fortes campos magnéticos. Usando o ALMA, encontrámos a nossa resposta," comenta Charles L. H. 'Chat' Hull, astrónomo do Centro Harvard-Smithsonian para Astrofísica em Cambridge, no estado norte-americano de Massachusetts, autor principal de um artigo publicado na revista The Astrophysical Journal Letters. "Podemos agora estudar os campos magnéticos em nuvens de formação estelar desde a mais ampla das escalas até à própria estrela nascente. Isto é emocionante porque poderá significar que as estrelas podem emergir a partir de uma maior gama de condições do que pensávamos."
O ALMA é capaz de estudar os campos magnéticos, em pequenas escalas, no interior de regiões de formação estelar através do mapeamento da polarização da luz emitida por grãos de poeira que se alinharam com o campo magnético.
Comparando a estrutura do campo magnético nas observações com simulações de computador, em várias escalas de tamanho, os astrónomos ganharam informações importantes sobre os estágios iniciais da formação estelar magnetizada. As simulações - que se estendem desde umas relativamente próximas 140 UA da protoestrela (cerca de 4 vezes a distância entre o Sol e Plutão) até 17 anos-luz - foram realizadas pelos astrónomos Philip Mocz e Blakesley Burkhart, também do mesmo instituto e coautores do artigo.
No caso de Ser-emb 8, os astrónomos pensam ter capturado "em flagrante" o campo magnético original em torno da protoestrela, antes do fluxo de material da estrela poder apagar a assinatura pristina do campo magnético na nuvem molecular circundante, realça Mocz.
"As nossas observações mostram que a importância do campo magnético na formação estelar pode variar muito de estrela para estrela," concluiu Hull. "Esta protoestrela parece ter sido formada num ambiente fracamente magnetizado dominado por turbulência, enquanto observações anteriores mostram claramente fontes formadas em ambientes fortemente magnetizados. Os estudos futuros irão revelar quão comum é cada cenário."

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